terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"Commercio da Louzã" - B.I.

O jornal "Commercio da Louzã" começou a publicar-se a 4 de Abril de 1909, ano e meio antes da proclamação da República. Ao lançar o seu programa aos mares da crítica, anunciava-se arredio de partidários e partidos — "um jornal sem política", como antevia o colaborador "João Ninguém".
Mas a política foi tema que sempre esteve presente no periódico lousanense, neste longo prólogo da República que acompanhou. No seu programa, o t'arrenego à política talvez quisesse significar ausência de comprometimento declarado a um determinado partido. Mas os textos desmentem que o jornal evitasse o empenhamento político, no caso em defesa do ideal republicano.
Não se renegava a política, mas a "má política" da qual chegavam constantes ecos da capital e doutras paragens, através de abundantes citações e reproduções integrais de prosas de outros jornais em Lisboa, Aveiro ou Coimbra publicados.

Não se assumia oficialmente como republicano, apesar das confessadas "ideias republicanas dos seus directores"; mas o "Commercio da Louzã" fez cruzada pela chegada breve da "LUZ", que aqui significava o advento da República, por troca com um regime decrépito, que levara Portugal à condição de um "leão moribundo".

Páginas desfraldadas a favor da instrução popular, da aprendizagem da leitura a desaguar no leito sofrido dos pobres a quem os herdeiros da sorte e da fortuna desprezavam; páginas impressas com o vigor de quem clamava contra as injustiças do caciquismo local, do clero reaccionário e dos "camaristas" lousanenses que pareciam saber apenas da sua vidinha tratar.

Pela instrução popular, significava tomar partido contra um trono que assentava "sobre um pedestal chamado Ignorância", contra uma "monarquia nova" que esclerosava de velhos problemas.
Contra o clero conservador, porque sustentáculo de um trono agora com face de um "jeune roi" pelo jornal considerado incompetente, entre outros variados mimos.

Contra a Rotina, a Intolerância e a Escravidão, porque o contraponto dava pelo nome de Liberdade, Razão e Justiça.

Querendo apurar dominâncias ideológicas pelo texto dos sessenta e poucos números cumpridos até ao dealbar da República, diremos que o "Commercio da Louzã" se fez no berço do ideário socialista, uma "extrema esquerda liberal" que José Tengarrinha encontrou nos jornais portugueses que não eram declaradamente órgãos de partidos.

Um jornal que lutava contra os poderosos também para se manter de pé, que de quando em vez lá surgiam as referências à devolução de vários exemplares, ou à má vontade de quem, podendo, negava a publicidade que em tempos sobejara para os antecessores periódicos publicados na terra, um "rotativo" e outro "franquista".

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